Uma das piores vítimas da pandemia, se não descruzarmos os braços, será perder o nosso Carnaval. O maior e mais respeitado evento do interior do estado realizado por quem mais ama o Carnaval.
Não é pouca coisa. Tem muita história. E muita tradição.
Há um movimento silencioso, liderado por pessoas silenciosas, entristecidas, entidades pessimistas, que jamais saíram às ruas para ver a banda ar, para que o Carnaval também e. Que ao menor rufar de um surdo, se trancam no banheiro. E tiram o carro da garagem e se refugiam em Raposo.
Eles tem todo o direito de discordar de mim. E se isolaram da folia.
Quanto a mim, não tenho culpa se nasci em Três Rios, e, desde cedo, aprendi a irar sua mais autêntica manifestação artística e cultural. Que veio do nosso berço.
De que adianta ir visitar o túmulo da Condessa do Rio Novo, dona da Fazenda Cantagalo, de onde tudo surgiu, sem respeitar os cânticos de resistência que faziam a sua senzala respirar?
Capoeira, Jongo, dribles, fugas e danças ao som de todos os batuques. Ou vocês acham que a Mãe Preta tem estátua na Vila Isabel porque se fez grandiosa em meio a Ópera?
Se eu nascesse em Petrópolis, tudo bem, estaria defendendo a "animadíssima" festa do colono alemão. Mas Deus foi legal comigo, me fez crescer no meio dessa fazenda, que se tornou uma cidade, onde cabiam os rituais da nobreza e a beleza do samba.
E é justo no Carnaval que a nobreza alcança os Camarotes para reverenciar o desfile do maior espetáculo da terra. Feitos por quem?
Basta fechar os olhos e me ver menino, assustado e irado com os cavalos que desfilavam no Boca Negra. Já adolescente, os carros alegóricos de Wanderlei Rodrigues se exibirem com a trilha sonora do Mestre Pádua.
Agora, depois de todo esse legado, tenho o dever de convocar vocês a lutar para que nossa tradição, nosso folclore, toda a arte popular que herdamos não seja engolida pelo descaso. Pelo medo. Pela omissão.
Não vamos deixar o samba morrer. Não vamos deixar o samba acabar.
Isso lógico, óbvio, depois que a Comissão de Frente das Vacinas tirarem o Covid da avenida debaixo de doses comadas e harmoniosas.
Por José Roberto Padilha
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