O difícil de ser bom 1q6u28

Estou eu sentado num barzinho de Belo Horizonte, com mais duas pessoas, num desses feriados prolongados quando a cidade esvazia. Lá pelas tantas, vejo entrar no estabelecimento um garotinho maltrapilho vendendo balas.

Dividindo minha atenção entre aquela cena e o assunto em pauta no nosso grupo, observo como a criança repete, mesa após mesa, um breve discurso previamente decorado.

Seu tom é choroso, excessivamente afetado e dramático. Não sei se é um bom vendedor de balas, mas vejo que é um mau ator.

Quando chega ao meu lado, espero em silêncio que repita seu monólogo, ouço o tom de voz embargado, vejo os olhos tristes de onde não brota uma lágrima.

Ao final do ato, me manifesto: “Não vou comprar suas balas, sabe por quê? Porque estou observando seu teatro, e vi que não é verdade. Você pode vender suas balas, mas não precisa tentar enganar as pessoas.”

Meu tom de voz é firme, seco, professoral. O menino, surpreso, emudece. Minhas duas acompanhantes, ambas do sexo feminino, se calam também, estarrecidas.

Enquanto o jovem protagonista do drama se afasta em direção a outra mesa, começa o ataque. Sou vítima dos severos, indignados protestos de minhas amigas.

“Que horror! Tudo bem não querer as balas, mas precisava fazer isso? Coitada da criança!” Tento me explicar, com frases entrecortadas infiltradas na rajada de xingamentos, quando o pequeno vendedor retorna para junto de nós.

Ele para exatamente no mesmo lugar de antes, a fisionomia séria, serena, e com voz suave pergunta: “O senhor gostaria de comprar uma bala">[email protected]

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